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Mostrando postagens de junho 26, 2016

Pensamento positivo, cura e café fraco

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Durante séculos, o templo de Esculápio em Epidauro, na Grécia, foi o principal centro de cura do mundo antigo. Doentes dirigiam-se até lá para se submeter ao ritual da incubação. Nesse rito, os afligidos passavam a noite e dormiam numa área especial do templo, o abaton , esperando que Esculápio, o deus da Medicina, lhes aparecesse em sonho e ditasse o tratamento adequado. Arqueólogos já encontraram inúmeras placas votivas, contendo depoimentos de pacientes satisfeitos que gravaram, para a posteridade, seus sonhos divinos e curas maravilhosas. Hoje, o templo de Epidauro está em ruínas -- parte delas você vê na imagem acima --, e é considerado um Patrimônio da Humanidade pela Unesco. A despeito dos séculos acumulados de depoimentos positivos e relatos sinceros de cura, não se veem mais multidões ansiosas pela próxima incubação. Corta para o Brasil, 2016. Num domingo desses, pela manhã, estava eu num hotel em São Paulo e, zapeando pela TV, parei no programa de uma igreja neopentecost

Moral ambígua para a inteligência artificial

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Carros autônomos, controlados por algoritmos, vêm sendo desenvolvidos há vários anos, e já foram testados em condições reais diversas vezes. No entanto, seu uso em larga escala requer a definição de algumas prioridades morais – por exemplo, caso um acidente seja inevitável, a inteligência do carro deve adotar a conduta que maximiza a segurança dos passageiros, ou a dos pedestres ao redor? Na revista Science , pesquisadores da França e dos Estados Unidos revelam o resultado contraditório de uma série de pesquisas de opinião pública sobre o tema: a maioria das pessoas prefere que os outros comprem carros programados para poupar pedestres, em prejuízo dos passageiros – mas a maioria também diz que preferiria andar num carro que preserva a vida dos passageiros a qualquer custo. Se ambos os tipos de veículo entrarem no mercado, especulam os autores, o modelo “altruísta” provavelmente será eliminado pela competição “egoísta”. Já uma regulamentação que obrigue todos os carros a serem “altru

Estado da ciência na China

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A revista Nature  da semana passada dedicou uma seção especial ao panorama da ciência na China . Em comentário escrito para o periódico, Wei Yang, presidente da Fundação Nacional de Ciências Naturais do país asiático, diz que a produtividade chinesa cresceu, mas que é preciso aumentar o impacto das publicações e reduzir os casos de má-conduta científica, como fraude e plágio. "A má conduta – incluindo falsos autores e falsos revisores – tem se disseminado, como fica evidente na série de retratações de artigos de autores chineses em periódicos da BioMed Central, Elsevier e Springer nos últimos dois anos", escreve ele.  Seu olhar crítico se estende, ainda, ao papel da ciência chinesa na economia e aos níveis de investimento: "O progresso científico e tecnológico contribuiu com apenas 55% do crescimento econômico na China em 2015, comparado com 88% nos Estados Unidos no mesmo período", queixa-se. "E a China gasta relativamente pouco de seu orçamento total

Superstição chique

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Quando, no meu Livro da Astrologia , refiro-me à prática astrológica como uma "superstição socialmente sancionada", eu estava me referindo a coisas assim (recorte da coluna de Sonia Racy do último domingo):

Treino placebo para o cérebro

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Estudo publicado no periódico PNAS mostra que muitos dos resultados apresentados pela chamada indústria do “treinamento cerebral” – que oferece jogos e atividades capazes, de supostamente, aumentar a memória e a inteligência – na verdade podem ser apenas efeitos placebo . “Demonstramos clara evidência de efeitos placebo após uma rotina curta de treinamento cognitivo que levou a ganhos significativos de inteligência fluida”, escrevem os autores. “Nossa meta é enfatizar a importância de se excluir explicações alternativas antes de atribuir efeitos às intervenções”. O trabalho consistiu no uso de dois tipos de panfletos para recrutar voluntários para um exercício de treinamento cerebral. Um dos panfletos foi escrito em tom entusiástico, de modo a estimular uma resposta placebo, enquanto o outro descrevia o experimento de modo neutro. No final, testes de inteligência mostraram que os voluntários que participaram do treinamento após receber o convite-placebo se saíram muito melhor que os