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Mostrando postagens de abril 28, 2013

Enquadrando a questão da "cura gay"

"Enquadramento" é a estratégia retórica de tentar controlar a forma com que uma questão em debate é vista pelo público em geral. Um enquadramento eficaz funciona como uma espécie de funil conceitual, dirigindo a discussão para uma conclusão preconcebida. Por exemplo, a frase "o governo pode punir você pelo que está no seu sangue" soa sinistra, com até alguns tons de eugenia e fascismo no meio, mas alguém poderia dizer que esse é, basicamente, o princípio por trás da proibição de se dirigir alcoolizado. Claro que, no caso da Lei Seca, o governo na verdade pune as pessoas por colocar a vida dos outros em perigo: o conteúdo do sangue é avaliado por ser um fator determinante, na circunstância específica. Mas é assim que o enquadramento funciona: como num filme, o quadro mostra parte da cena diante das câmeras, e omite o resto. Num enquadramento ruim (ou desonesto), o omitido acaba sendo mais importante que o mostrado. No aparentemente interminável debate legislativo

Só poder dizer coisas inofensivas é uma liberdade inútil

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O New York Times desta segunda-feira trouxe um artigo de Salman Rushdie sobre a necessidade de que voltemos a valorizar a coragem moral -- a coragem de desafiar a opinião dominante, mesmo quando isso pode trazer consequências bem mais graves que um desentendimento com o sogro. Como o jornalista britânico Nick Cohen notou em seu livro You Can't Read This Book  (que, aliás, já recomendei em outras postagens deste blog), é muito cômodo espumar contra o imperialismo ocidental e sair por aí xingando a rainha na Inglaterra, o papa ou o governo Obama. Afinal, sejam os impropérios merecidos ou não -- e meus leitores bem sabem que o já escrevi sobre a Santa Sé --, é mais do que razoável supor nem o MI-5, nem a Guarda Suíça e nem mesmo a CIA vão mandar homens-bomba atrás de você. Já o pessoal que aparece no clip de vídeo abaixo usou de palavras para enfrentar adversários bem menos caridosos e, curiosamente, obteve muito pouca solidariedade aqui no Ocidente. Como escreveu Rushdie no NYT