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Mostrando postagens de julho 10, 2011

HP Lovecraft e eu, uma longa história

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Quem acompanha a minha  soi-disant  "carreira" há mais tempo sabe que meus primeiros trabalhos como ficcionista foram fortemente influenciados pela obra do americano Howard Philips (H.P.) Lovecraft. Um dos grandes nomes da era pulp, Lovcraft criou uma fusão de ficção científica, terror e fantasia que se encaixava muito bem no que eu queria fazer lá pelos idos de 1990, e portanto bebi a fundo em sua fonte. A obra disponível no Brasil era pequena -- encontravam-se, com alguma facilidade, apenas quatro volumes: três, se não me engano, da Francisco Alves e um da L&PM. Meu primeiro livro de contos, Medo, Mistério e Morte , contém algumas tentativas incipientes de criar um "Arkham Country" (como é chamado o trecho fictício, e mal assombrado, da Nova Inglaterra onde se passam muitas das crônicas lovecraftianas) brasileiro. Meus primeiros contatos literários com o exterior vêm dessa época, com as primeiras traduções de contos meus para o inglês (quem quiser se arris

Que tal trocar o véu por um escorredor de macarrão?

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Muita gente torce o nariz, mas eu realmente acho que as religiões de paródia, como a Igreja do Monstro de Espaguete Voador e o Discordianismo dizem algo de muito importante sobre a natureza do conhecimento humano. Digo, qual a diferença epistemológica entre se afirmar que o Universo foi criado por uma voz desencarnada que, 14 bilhões de anos depois, resolveu engravidar uma virgem, ou por uma bola gigante de espaguete à bolonhesa? O fato de que a segunda versão parece intrinsecamente ridícula não conta: o que deveríamos nos perguntar é por que a primeira não parece, também. (Pode-se argumentar que espaguete à bolonhesa é algo que surgiu dentro do Universo, e portanto não poderia pré-existir a ele, mas até aí vozes, vontades, personalidades, etc., também estão sujeitas à mesmíssima restrição. E quem garante que os nossos espaguetes à bolonhesa não são apenas imitações baratas do verdadeiro ideal platônico que transcende o devir?) Ambas, afinal, são alegações impossíveis de co

Zona habitável... da galáxia?

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Acho que todo mundo já está meio careca de ouvir falar no conceito de "zona habitável" de um sistema solar: a região, em torno da estrela central, onde a temperatura na superfície de um planeta permite a existência de água (ou algum outro solvente viável) em estado líquido. Menos conhecidas, porém, são as críticas à ideia de zona habitável, que chamam a atenção para a estreiteza do conceito baseado exclusivamente na distância estrela-planeta, já que uma série de outros fatores (densidade atmosférica, por exemplo) podem afetar a capacidade de um planeta conter líquidos viáveis para a vida. Outra tipo de crítica, de caráter mais filosófico, lembra que "vida" pode ser um fenômeno muito mais sutil e/ou complexo do que imaginamos, existindo em formas e condições que, hoje, nos parecem impossíveis. (Para ser justo, é preciso dizer que a maioria dos cientistas que trabalham buscando vida extraterrestre está perfeitamente consciente das limitações do conceito: o que

Netuno, 1 ano

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Faz um ano que o planeta Netuno foi descoberto. Ou, ao menos, um ano netuniano: é apenas hoje -- 60.150 dias, ou 164 anos e nove meses depois -- que o oitavo planeta do Sistema Solar retorna à mesma posição de sua órbita em que se encontrava em 24 de setembro de 1846, quando foi oficialmente descoberto. "Oficialmente" porque a existência do planeta já havia sido prevista matematicamente por Urban de Verrier e John Couch Adams, em cálculos realizados em 1845. Houve uma certa disputa entre De Verrier e Adams quanto à autoria orginal dos cálculos, mas a observação que detectou o planeta foi feita com base nas contas do francês. Netuno foi o primeiro astro descoberto não por meio de observação direta, mas por cálculos feitos com base em seu efeito gravitacional sobre um outro corpo celeste -- no caso, o planeta Urano. Nesse aspecto, De Verrier e Adams são os "cientistas patronos" dos descobridores de planetas extrassolares. Sendo a natureza humana o que é, depois

Vampiros e lobisomens, de verdade

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Mitologia é uma coisa engraçada. Mitologia acelerada pela indústria pop, então, nem se fala. O pensamento me ocorreu outro dia enquanto, zapeando a TV por assinatura, assisti aos primeiros minutos de Anjos da Noite , um filme sobre guerra entre vampiros e lobisomens. O que, se você é muito mais novo do que eu, provavelmente remete à saga Crepúsculo . Ou, se você é só um pouco mais novo que eu, remete ao World of Darkness do RPG Vampire e derivados. (Aliás: meninos, eu vi. A primeira entrevista jornalística em inglês que fiz foi com Mark Hein-Hagen, o criador do Vampire , no Parque do Ibirapuera, imagino que lá se vão uns 20 anos. O texto existe em alguma edição histórica do fanzine Panacea : revire os sebos, se quiser -- não creio que esteja online). Agora, se você tem a minha idade, vampiros versus lobisomens remete à capa do gibi que ilustra esta postagem; e se você é um maníaco comparável a mim, talvez se lembre dos estertores da saga de horror da Universal, nos anos 40, quan