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Mostrando postagens de maio 22, 2011

Afinal, o que os cristãos têm contra os gays?

Sou só eu que estou achando espantosa a virulência da reação de grupos religiosos contra as iniciativas legislativas e do Executivo de mitigação da homofobia?  Parêntese.  Eu, pessoalmente, me vejo numa situação engraçada nos debates sobre o tal "PL da homofobia" que, fundamentalmente, apenas inclui a orientação sexual na lista de itens protegidos pela lei contra discriminação em vigor no Brasil.  Isso porque sempre achei a lei contra discriminação, da forma como está, uma espécie de Espada de Dâmocles pairando sobre a liberdade de expressão, e agora tenho um bando de cristãos coléricos concordando, de certa forma, comigo. Mas meu ponto é contra a lei em geral, não contra a lista de grupos protegidos por ela, então nossa concordância não vai, realmente, muito longe. Fecha parêntese. Voltando ao tema principal da postagem: há um trecho do Velho Testamento que declara a homossexualidade uma "abominação", mas até aí o Velho Testamento também diz que mariscos e cam

De onde veio este sangue todo? Uma resposta matemática

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Como qualquer fã de CSI já deve estar careca de saber, é possível determinar a direção de onde veio um borrifo de sangue prolongando o eixo maior da elipse formada pela parte bojuda das manchas. Ou, em língua de gente: se as manchas de sangue têm um formato assim:  Então a origem do sangue está na direção apontada pela parte grossa e arredondada da nódoa. Em havendo um conjunto de nódoas, a questão torna-se simplesmente um caso de ver onde os eixos prolongados se cruzam. O leitor perspicaz provavelmente já notou que esse cruzamento de linhas oferece apenas uma parte da informação necessária para localizar a origem exata do sangue: por exemplo, se as manchas estiverem todas no chão, o prolongamento de seus eixos vai indicar um ponto também no mesmo plano do piso. Pensando em termos de um sistema de coordenadas como o da figura abaixo, os eixos das manchas dão os valores de X e Y, mas não o de Z: Definir o valor de Z -- a altura de onde o sangue veio -- parece, curiosamente, ser u

Spirit is dead

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A Nasa decidiu ontem encerrar as tentativas de retomar contato com o robô Spirit, que operava em Marte desde janeiro de 2004. A última comunicação do robô com a Terra ocorreu em março do ano passado. De acordo com a agência espacial, os recursos que vinham sendo usados nas tentativas de reativar o Spirit -- que provavelmente congelou além de qualquer possibilidade de recuperação no inverno marciano -- serão destinados para o lançamento do robô Curiosity.  A mais ambiciosa missão robótica já planejada para Marte, o Curiosity tem o tamanho de um jipe, é movido por energia nuclear e conta com instrumentos inéditos no planeta vermelho, incluindo um laser que será usado para vaporizar amostras de rocha -- o gás gerado será em seguida analisado pela máquina. A missão original do Spirit era prevsoita para durar três meses. Ele funcionou por seis anos. O robô ficou atolado num banco de areia fofa em 2009, de onde não conseguiu mais sair. Mesmo assim, continuou a enviar dados científicos

Crime e Castigo

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Uma das teorias usadas para explicar por que as pessoas cometem crimes é a da escolha racional : a pessoa que contempla a possibilidade de cometer um crime pesa os prós e os contras, o que tem a ganhar e o que tem a perder, as vantagens e os riscos, e decide com base nessa análise de custo-benefício. A teoria da escolha racional está por trás da ideia de que a pena tem um efeito dissuasivo -- isto é, de que o risco de ser punido pela sociedade é um fator a mais na lista dos "contras" que o criminoso em potencial leva em consideração antes de se comprometer com o crime. Daí decorre o princípio de que a dissuasão depende mais da certeza da punição do que do tamanho da pena : se a pessoa sabe que é altamente provável que seja pega,  mesmo um pequeno castigo pode ter um grande efeito atenuante sobre a tentação de delinquir. Inversamente, isso também ajuda a explicar porque, em sociedades onde o risco de ser pego é muito pequeno -- como foi durante a maior parte da históri

Extra! Extra! Fim do mundo remarcado!

Óquei, povo, podem parar de sacanear o messias moderno Harold Camping: ele não só reconheceu seu erro ao marcar o fim do mundo para 21 de maio, como já refez os cálculos e chegou a uma nova data, 21 de outubro . Isso significa que terei tempo de gastar a restituição do Imposto de Renda e, mais importante, que os brasileiros poderão pedir perdão de seus pecados em Aparecida, no dia 12. De acordo com a versão revisada de Camping, na verdade em 21 de maio Jesus iniciou o julgamento da Terra; veredicto e sentença saem em outubro. Se você acha que essa estratégia é nova, está enganado: vários estudiosos, como o teólogo alemão Gerd Lüdemann , já chamaram atenção para como os textos do Novo Testamento vão mudando a ênfase sobre a promessa da Segunda Vinda de Jesus, que começa sendo tratada como um evento definitivo e imediato e aos poucos vai se transformando num processo de milênios. Camping está apenas reutilizando uma velha técnica, testada e aprovada por bilhões de cristãos de todo

Código florestal é o "nosso" aquecimento global?

Durante o governo Bush, o jornalista americano Chris Mooney publicou o livro The Republican War on Science , que denunciava a postura anticientífica do Partido Republicano, principalmente em relação ao aquecimento global -- negando-se a reconhecer o amplo consenso internacional de cientistas em torno da questão e agarrando-se aos argumentos mais ridículos e às opiniões mais extremistas para evitar tratar do fenômeno e, em consequência, da necessidade de ajustes na matriz energética dos EUA, ajustes esses que poderiam trazer prejuízos para as empresas petrolíferas e para as comunidades que dependem dessas empresas. Basicamente, era um caso dos políticos tapando os ouvidos e cantando alto para não ouvir algumas, com o perdão de Al Gore, "verdades inconvenientes" para suas bases eleitorais e, mais importante, para os bolsos de suas fontes de financiamento de campanha. Imagino que um "Mooney brasileiro" poderia escrever um livro parecido em torno da questão do código

A maconha e a marcha

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O fato de as chamadas "marchas da maconha" ainda serem consideradas "polêmicas" é um dos sinais do quanto ainda estamos longe de uma cultura democrática digna do nome. O direito dos cidadãos de protestar pacificamente para pedir mudanças na lei é um dos pilares da democracia moderna -- na Carta de Direitos da Constituição dos EUA, aparece logo no primeiro item, junto da liberdade de expressão e da de religião -- mas, aqui no Brasil, as pessoas ainda parecem achar que liberdade de manifestação é liberdade de manifestar  concordância com o senso comum (ou, pelo menos, com um lobby bem endinheirado). Claro, em sendo a manifestação uma passeata, as autoridades têm de levar uma série de fatores em consideração antes de autorizá-la, mas esses fatores são (ou deveriam ser) o impacto do evento na vida da cidade e no direito de ir e vir dos demais cidadãos e não, ora bolas, o tema da manifestação em si. (Cá entre nós, a lei brasileira contra a "apologia do crime&