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Mostrando postagens de março 20, 2011

Que tal parar de culpar a vítima?

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Tenho algumas reservas quanto ao uso amplo que às vezes se dá à expressão "não culpe a vítima". Afinal, há casos em que a vítima é, efetivamente, culpada: motoristas embriagados que se esborracham em postes são um caso óbvio. O título desta postagem, no entanto, se refere à tendência de "pôr a culpa na vítima" que alimenta boa parte do que passa por cultura de autoajuda no mundo atual -- indo desde as versões evangélicas vendidas nos cultos da prosperidade às formas mais (cof! cof!) sofisticadas de O Segredo e quetais. Nesta semana, por exemplo, apareceu no quadro de avisos do meu condomínio uma "mensagem edificante", provavelmente impressa da internet, com o título "se não quiser ficar doente..." e que enumera uma série de atitudes que as pessoas que têm a boa saúde como meta devem tomar. Ali não há nada, no entanto, sobre lavar as mãos antes das refeições, comer vegetais frescos, evitar o álcool e o tabaco ou manter uma rotina de ativida

Falha mais uma tentativa de distinguir acupuntura de placebo

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Acho que é do Millôr Fernandes a observação de que qualquer qualquer afirmação, independentemente da validade, sempre tem uma chance mais do que razoável de ser levada a sério quando sai da boca de um velhinho chinês. Não sei se o Millôr tinha a chamada "medicina tradicional chinesa" em mente quando formulou o pensamento, mas alguns resultados recentes de estudos sobre acupuntura me trouxeram à lembrança a pérola do Mestre do Méier. O trabalho mais recente, divulgado nesta quinta-feira, foi patrocinado pelo Instituto Karolisnka -- onde ficam os caras que decidem o Nobel de Medicina -- concluiu que acupuntura placebo funciona tão bem quanto acupuntura real no tratamento da náusea sentida por pacientes de câncer, submetidos a radioterapia. O trabalho envolveu 277 pacientes. Desses, 215 foram distribuídos, aleatoriamente, entre um grupo que passou por acupuntura e outro que apenas teve agulhas falsas -- cujas pontas se retraem, sem perfurar a pele -- pressionadas contra o c

Livros à venda!

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Já estão disponíveis para venda online as antologias Ficção de Polpa: Crime! e Assembleia Estelar , a primeira de novelas policiais e a segunda de contos de ficção científica; a primeira da gaúcha Não Editora e a segunda, da paulistana Devir. O que ambas têm em comum entre si, e com este blog? Textos meus, oras. Claro, não só isso: ambas são fruto do trabalho criterioso de seleção do conteúdo por editores que entendem do traçado (Samir Machado de Machado e Marcello Simão Branco, respectivamente). O lançamento oficial da Ficção de Polpa é esta noite, em Porto Alegre (Cult Bar, rua Comendador Caminha, 348, a partir das 19h30). O da Assembleia Estelar será em em 31 de março, uma quinta-feira, na FNAC Paulista (Av. Paulista 901, perto do Metrô Brigadeiro, São Paulo, SP), a partir das 19h00. Eu estarei lá. Espero ver mais livros com trabalhos meus, tanto de ficção quanto de ensaio/jornalismo nas livrarias ainda este ano, mas esse é o tipo de esperança que cada um cultiva por sua p

Por que o universo não precisa de Deus: segunda opinião

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Depois do mais recente livro de Stephen Hawking , deponta no horizonte mais uma obra afirmando que o progresso da cosmologia permite pôr Deus para escanteio. Desta vez, trata-se de um artigo que será publicado no livro Blackwell Companion to Science and Christianity , que ainda não tem data para sair, mas já está em pré-venda na Amazon canadense (e custa uma grana preta). Embora o livro ainda não tenha saído, o artigo, de autoria do astrofísico Sean Carroll, pode ser lido online . Trata-se de uma exposição acadêmica, com mais de duas dezenas de notas de rodapé. Felizmente, inscreve-se na tradição anglo-saxônica que valoriza a clareza sobre os (supostos) voos de estilo, e deixa-se ler sem dificuldade. Em artigo para o site da revista Discover , Carroll pede comentários e críticas que possam ajudá-lo a dar forma final ao texto antes que o livro vá para a gráfica. Eu não vi muito do que discordar no artigo para o livro, que inclui algumas pinceladas a respeito do papel da ideia de &

Atenção, Kassab: o malufo-socialismo foi inventado em Jundiaí

A súbita conversão do prefeito da capital paulista, Gilberto Kassab, ao ideário político de centro-esquerda não me causou espanto -- como parece ter sido o caso de muita gente -- mas déjà-vu.  Meu pensamentos retornaram a março (acho que era março) de 1996, quando eu trabalhava no  Jornal de Jundiaí e chegou a notícia de que um certo vereador estava entrando para o PSB. Agora, esse vereador era uma verdadeira fortaleza do malufismo local. Era sempre um dos primeiros a receber Paulo Maluf em suas visitas à cidade, e fazia questão de ver seu nome associado ao do amado líder. Sua conversão ao PSB devia-se à radicalização da postura oposicionista do partido de Maluf na época (era o PPR?), que havia se integrado a um bloco de resistência à administração municipal tucana, o que provavelmente havia excluído seus filiados (e suas respectivas bases eleitorais) das benesses do poder. (Esse bloco não durou muito, aliás: logo alguns vereadores o abandonaram, em nome de uma "postura indepe

Vamos substituir pi?

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Um tuíte do matemático John Allen Paulos chamou minha atenção hoje para uma questão candente, relativa a uma das mais importantes constantes do Universo: por que pi é definido com base no diâmetro da circunferência, e não no raio ? Para quem andou matando aula: o número pi (3,141592...) é uma constante, obtida quando se divide o comprimento de uma circunferência por seu diâmetro. Esse número não só é onipresente nas fórmulas que envolvem ângulos -- o que faz sentido, já que ângulos são frações do círculo -- mas também tem o estranho hábito de aparecer em situações que, à primeira vista, não têm nada a ver com a geometria das coisas redondas. Por exemplo, pi é um dos fatores do cálculo d a constante de Planck , h , que define o quantum de energia que dá nome à física quântica. Muitas vezes, os físicos preferem usar a constante de Planck reduzida, ou [h/(2*pi)] . Note que pi entra na jogada em dobro (2*pi). Esse é um fenômeno frequente. A fórmula do comprimento da circunferência