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Mostrando postagens de fevereiro 13, 2011

Pô, sacanearam o Besouro Verde...

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Às vezes (mais do que gostaria, para ser sincero) acabo dando à minha mulher motivo para me olhar como se eu fosse um marciano recém-caído na Terra. O mais recente foi no jantar de ontem, quando me queixei de que o filme do Besouro Verde tinha sido feito em tom de paródia. -- O cara se chama Besouro Verde e você queria um filme sério? -- disse-me ela, estupefata, um misto de espanto e piedade em seus lindos olhos azuis arregalados. Pois é. Eu queria. O personagem me intriga desde que assisti a episódios do seriado de TV com Bruce Leee e Van Williams. A ideia de um herói mascarado de sobretudo que se faz passar por gângster tem apelo, e me parecia cheia de potencial a ser realizado, à la Batman Begins , por exemplo. Ah, sim: para que não achem (como minha mulher) que estou viajando na maionese, Matt Wagner escreveu uma bela minissérie, Green Hornet: Year One , nessa mesma premissa. E, nos anos 80 e 90, Ron Fortier produziu, para a NOW Comics, uma ambiciosa saga familiar envolvendo

Retrato de um sistema solar enquanto jovem

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O Instituto Max Plank de Astronomia divulgou ontem a imagem de um disco protoplanetário -- o disco ede poeira que se forma em torno de uma estrela nascente, e onde acabam surgindo os planetas. A imagem, feita com o telescópio Subaru, no Havaí, mostra, sob a forma de uma barra branca, a luz refletida pelo disco de material em rorno da estrela LkCa 15, a 450 anos-luz da Terra. A estrela em si está coberta pelo disco preto no centro da imagem, para que sua iluminação direta não ofusque a imagem do que existe nos arredores. O Max Planck fez ainda um informativo infográfico descrevendo exatamente o que se vê na imagem (as legendas, infelizmente, estão em inglês -- quando o blog for rentável o suficiente para eu contratar um editor de arte, isso não acontecerá mais, prometo). A teoria dominante, hoje, sobre formação planetária diz que mundos como a Terra ou Júpiter nascem a partir de diferenças na cocentração de matéria nesses discos: os pontos mais densos atraem mais matéria para

Astronomia e os rumos da história

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Acho que o truque -- que já virou clichê -- foi usado pela primeira vez, na ficção, por Mark Twain em A Connecticut Yankee in King Arthur's Court : o fim de um eclipse solar é tratado como "prova", diante de um populacho ignorante, dos poderes superiores de alguém. Agora, de acordo com astrônomos da República da Georgia (parte da antiga União Soviética), algo parecido pode ter levado à adoção do cristianismo como religião oficial do país, entre o fim da Antiguidade e o início da Idade Média. O mito da cristianização da Georgia diz que o Rei Mirian, lá pelo século IV, estava caçando numa floresta quando, de repente, o Sol desapareceu. O monarca então começou a desfiar um catálogo de deuses, pedindo a cada um deles que trouxesse o Sol de volta, mas só foi atendido quando apresentou sua solicitação ao "deus de Nino" (Nino, no caso, era uma missionária cristã, depois canonizada; veja ícone ao lado). De acordo com o "paper" disponibilizado no Arxiv , a

Saiu Assembleia Estelar!

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O editor Marcello Simão Branco me avisa que já está pipocando por aí o livro Assembleia Estelar , uma antologia de mais de 400 páginas reunindo contos de ficção científica com temática política. Além de pesos-pesados como Ursula K. LeGuin e Bruce Sterling, o livro traz trabalhos de diversos autores brasileiros (eu, entre eles). Meu conto, Questão de Sobrevivência , passa-se num futuro próximo e trata da tensão política e ética entre um movimento social e seus "patrocinadores" secretos. E contém uma dose moderada de porrada, claro, que personagem meu tem de ralar, não basta ficar choramingando solilóquios pelos cantos. (O conto foi publicado originalmente numa revista, mas o revisor fez tantas e tamanhas barbaridades com o texto que considero essa primeira versão totalmente apócrifa. Uma segunda versão saiu na antologia Tempos de Fúria , em relação à qual o texto que aparece em Assembleia tem algumas pequenas diferenças.) No momento em que escrevo, o livro ainda não se

PM-PB vira igreja evangélica. Ou: Estado laico? Onde?

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Minha esperança é de que esta notícia , dando conta de um programa de disseminação da religião evangélica pela Polícia Militar, tenha sido inserida no site do governo do Estado da Paraíba por um hacker, mas confesso que não é uma esperança muito grande. Um excerto: "O projeto foi elaborado pelo comandante da companhia, o capitão Fabian, juntamente com o pastor e cabo Marcílio. O objetivo é usar a palavra de Deus para ajudar na diminuição da criminalidade da região. “Além da força repressiva e preventiva da Policia Militar, é necessário ir de encontro à fonte dos problemas e a orientação religiosa pode transformar vidas nestas cidades”, argumenta o capital Fabian." (...) "Segundo o pastor, com tão pouco tempo já é possível notar uma diferença dentro da companhia. “A ação foi bem aceita pelos militares e nossa expectativa é que ocorra o mesmo na sociedade, para enfim notarmos uma diferença na redução da criminalidade. Os cultos são realizados na sede da 2ª Companhia, e

Pessimismo neutraliza até analgésico

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O pessimista tem a vantagem de nunca receber surpresas desagradáveis, diz o clichê. Mas ele pode também estar se privando de algumas coisas que, se não exatamente surpreendentes, certamente são agradáveis. Alívio da dor, por exemplo. De acordo com experimenmto descrito na edição mais recente da revista Science Translational Medicine (STM), voluntários submetidos a uma dor controlada -- com uma fonte de calor encostada na panturrilha -- receberam um fluxo de solução salina que poderia conter ou não o analgésico remifentanil. Em alguns casos, os cientistas disseram aos voluntários que a solução já estava "dopada" com o analgésico; em alguns casos, deixaram o analgésico correr sem avisar ninguém; e ainda em outros casos, disseram que seria administrada uma droga que aumentaria a dor. Pediu-se aos voluntários, ainda, que dessem uma "nota" para a intensidade da dor que sentiam, de 0 a 100. Resultado: os pacientes que tinham sido informados de que estavam recebendo o

Para relembrar Ellery Queen, o homem-labirinto

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Terminei de reler há pouco The Greek Coffin Mistery, romance da fase clássica de Ellery Queen. Movido por uma certa nostalgia, republico aqui, com algumas poucas modificações, um artigo que havia escrito depois de ler o livro pela primeira vez, em 2006.  Jorge Luis Borges era fascinado por labirintos, e por isso não espanta que tenha se encantado com o trabalho de uma dupla de americanos, dois primos que também eram “Ellery Queen”. Quem tem o prazer de entrar em contato com a obra literária de Ellery, hoje em dia, cedo ou tarde será informado de que “Ellery Queen” foi o pseudônimo adotado por dois primos, Frederic Dannay (1905-1982) e Manfred Bennington Lee (1905-1971), para entrar num concurso de romances policiais, em Nova York, em 1928. “Ellery Queen” também é o nome do detetive que resolve o caso apresentado no livro. E isso é verdade, mas não toda a verdade. Primeiro, tanto “Frederic Dannay” quanto “Manfred B. Lee” também eram, de certa forma, pseudônimos (ou, pelo menos, “nom

Remédio para emagrecer. Proibir resolve?

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"O contrabando de bebidas alcoólicas foi tão essencial para o crime organizado e a Máfia quanto a galinha é para o ovo. Ele virtualmente salvou as grandes gangues (...) enquanto anteriormente políticos contratavam criminosos, o contrabando tornou os criminosos tão ricos que eles começaram a comprar políticos no atacado" . O trecho acima foi extraído do verbete "Bootlegging" de  The Mafia Encyclopedia , e me veio à mente quando li que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) estuda proibir  os medicamentos para emagrecer derivados de anfetamina e a sibutramina . Outra coisa de que me lembrei foi de um gráfico publicado na edição mais recente da revista Wired , mostrando quais as atividades criminosas mais rentáveis do mundo. No topo, com uma receita de US$ 38 bilhões: contrabandear cocaína para os Estados Unidos. Proibir um produto não significa tirá-lo do mercado, significa lançá-lo no mercado negro. E o mercado negro de emagrecedores -- e pseudoema

Pois é, então redescobriram o vídeo do óvni em Jerusalém...

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Há alguns dias (vários dias, na verdade), eu soltei um link no Twitter sobre o desmascaramento de um vídeo forjado que supostamente mostrava um objeto voador não-identificado flutuando sobre a Esplanada das Mesquitas em Jerusalém. Mas, como na internet os boatos nunca morrem (pelas minhas contas, ao longo de dez anos escrevi sete matérias desmentido a história do "livro didático americano que diz que a Amazônia pertence à ONU"), eis que o vídeo não só volta a dar o ar de sua graça como chega ao "mainstream" da mídia brasileira, graças aos inestimáveis préstimos da agência EFE -- como se pode conferir  aqui e aqui . (Se um dia nos encontrarmos numa mesa de chope, lembre-se de me embebedar e depois pergunte-me sobre a experiência de tentar manter um canal online sério de ciência tendo por base o material da EFE e da BBC.) Mas, enfim: Phil Plait, o BadAstronomer , tem uma postagem de 9 de fevereiro em seu blog explicando como o primeiro vídeo foi falsificado . Um

A mais distante obra de engenharia civil já executada

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Óquei, não se trata exatamente de um grande projeto -- está mais para um grafite de bnmheiro -- , mas veja aí, na imagem acima, à direita, indicada pelas setas amarelas: a borda da cratera  aberta no cometa Tempel 1 pelo projétil disparado pela sonda Deep Impact, em 2005. A cratera tem diâmetro estimado em 150 metros. A distância média que separa o Tempel 1 do Sol é de cerca de 3 Unidades Astronômicas, ou pouco mais de 400 milhões de  quilômetros. As fotos da explosão causada pelo bombardeamento do Tempel 1 ficaram famosas. Você vê uma delas logo abaixo: O registro da cratera, mais de cinco anos depois, foi feito pela sonda Stardust (rebatizada "Next", um nome que só deve ter pego com os engenheiros da Nasa, e olhe lá). A missão primária da Stardust, coletar poeira cósmica e lançá-la num recipiente em direção à Terra, foi completada em 2006. Esse follow-up permitiu, segundo nota da agência espacial, que cientistas tivessem uma melhor ideia da estrutura do cometa. A f

A história do mundo, segundo H.G. Wells

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A convite do Amálgama , passei a semana passada enfurnado nas páginas de Uma Breve História do Mundo, livro finalizado por H.G. Wells em 1921, para compor uma resenha que você pode ler aqui . O livro é uma obra de fôlego de divulgação científica mas, como a ciência evolui, ficou obviamente datado (mais a respeito, na resenha). As coisas que realmente valem a pena são o foco quase ideológico que Wells dá ao papel da tecnologia e da educação na história humana, e sua visão sobre o que viria a ser o futuro dele (o nosso presente). Ele já fazia críticas ao dogmatismo do governo soviético, mas apostava que o avanço da civilização dependeria de uma flexibilização cada vez maior do direito de propriedade. A avaliação que faz do papel revolucionário e civilizatório do cristianismo me soou tão exagerada que me pareceu mais recurso retórico -- tipo, jogar na cada dos cristãos conservadores que "é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha que", etc, etc. Meus livro

Zona habitável: habitável para quem?

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Creio que a primeira crítica contundente ao conceito de "zona habitável" que encontrei estava no livro What Does a Martian Look Like? The Science of Extraterrestrial Life , escrito em parceira pelo biólogo Jack Cohen e pelo matemático Ian Stweart. O conceito de zona habitável é bem simples: a faixa em torno de uma estrela onde há energia suficiente para sustentar a existência de água em estado líquido. O espaço entre a estrela e o início dessa zona seria quente demais para a vida; o espaço além do término da zona, excessivamente frio. Cohen e Stewart chamam a atenção para o fato de que essa definição é simplista demais. Mesmo aceitando a ideia de que água em estado líquido é fundamental para a vida, a intensidade da radiação estelar pode não ser o fator fundamental aí. Um exemplo claro é o papel dióxido de carbono e de outros gases do efeito estufa: com uma atmosfera mais densa, Marte poderia ter oceanos; com uma atmosfera menos densa, Vênus poderia ter um clima ameno.

Rufem os tambores: minha estreia na série A

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Será que a maior parte dos leitores deste blog já ouviu falar em James Randi? O mágico americano (naturalizado; Randi é canadense de nascimento) apareceu há alguns anos no Fantástico, da Globo, desafiando Thomas Green Morton a demonstrar seus "poderes paranormais" sob condições controladas, mas é provável que a maioria dos brasileiros não esteja familiarizada com o currículo desse grande homem. Aqui, então, algumas pinceladas: Projeto Alfa: Randi treinou dois jovens mágicos que, de 1979 a 1983, enganaram os pesquisadores do Laboratório McDonnell de Pesquisa Psíquica. Criado com uma doação de meio milhão de dólares feita pelo presidente da empresa aeroespacial McDonnell-Douglas, o laboratório tinha por objetivo testar alegações de poderes paranormais  em condições científicas controladas. O fato é que os dois discípulos de Randi demonstraram que os "controles" usados eram insuficientes, e que os cientistas eram facilmente enganados. Curandeiros da Fé: Em 1987, Ra

Corinthians e Ed Witten

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Nas últimas 24 horas, passei por duas experiências diametralmente opostas: assisti, no estádio Dr. Jayme Cintra,  à partida entre Paulista de Jundiaí e Corinthians (0 x 0) e, no auditório da Unesp, em São Paulo, à palestra sobre Teoria das Cordas proferida por Edward Witten, um dos principais teóricos da área e o único físico a já ter recebido a Medalha Fields, concedida por avanços no campo na matemática (e que, compreensivelmente, costuma ser dada apenas a matemáticos). Além do óbvio contraste entre os dois espetáculos, há o fato de que, no jogo de futebol, eu entendi praticamente tudo, mas não gostei de nada. Na palestra de Witten, não entendi quase nada, mas gostei de praticamente tudo. Falando sério: fui a São Paulo com o espírito preparadíssimo para boiar em 90% do que era dito. Creio ter boiado, na verdade, em apenas 70%, e isso graças ao fato de ter concluído há pouco a leitura de The Hidden Reality: Parallel Universes and the Deep Laws of the Cosmos , de Brian Greene, que

A gonorreia tem um pedacinho de você

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Cientistas já sabiam que bactérias são capazes de trocar fragmentos de material genético entre si -- esse é um dos mecanismos que faz com que a resistência antibióticos se espalhe tão depressa. Agora, uma equipe de pesquisadores de Chicago, nos EUA, diz ter provas de que pelo menos uma espécie de bactéria é capaz de de assimilar DNA humano. E não se trata de uma bactéria qualquer: é a Neisseria gonorrhoeae , a causadora da popular DST gonorreia. Os detalhes da descoberta serão publicados na revista online mBio , da Sociedade de Microbiologia dos Estados Unidos. Ainda não se sabe exatamente que vantagem a bactéria leva nesse negócio, mas os autores da descoberta supõem que isso permite que o micróbio crie novas versões de si mesmo.  A sequência de genoma humano foi encontrada em 11% das culturas de bactéria de gonorreia estudadas. Cerca de 50 milhões de pessoas em todo o mundo contraem a doença a cada ano. A gonorreia é tratada com antibióticos -- embora venha mostrando resistência c

Gêmeos siameses em Marte

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Um óvulo fecundado passando pela primeira divisão celular? Não, um par de crateras em Marte, fotografado pela câmera HiRise, da sonda MRO, da Nasa. Os cientistas que operam a HiRise especulam que a cratera dupla foi criada pelo impacto simultâneo de dois corpos de massa semelhante -- talvez um asteroide ou cometa formado por dois "gomos" interligados. Um exemplo mencionado desse tipo de configuração é do do cometa Hartley 2, que você vê abaixo: Fotografado pela sonda Deep Impact (em 2010, durante sua missão suplementar, chamada "Epoxi") o cometa realmente parece feito de dois blocos maciços unidos por uma ponte de neve. Algo parecido talvez tenha atingido Marte no passado, provocando as crateras interligadas.