Netuno, 1 ano

Faz um ano que o planeta Netuno foi descoberto. Ou, ao menos, um ano netuniano: é apenas hoje -- 60.150 dias, ou 164 anos e nove meses depois -- que o oitavo planeta do Sistema Solar retorna à mesma posição de sua órbita em que se encontrava em 24 de setembro de 1846, quando foi oficialmente descoberto.

"Oficialmente" porque a existência do planeta já havia sido prevista matematicamente por Urban de Verrier e John Couch Adams, em cálculos realizados em 1845. Houve uma certa disputa entre De Verrier e Adams quanto à autoria orginal dos cálculos, mas a observação que detectou o planeta foi feita com base nas contas do francês.

Netuno foi o primeiro astro descoberto não por meio de observação direta, mas por cálculos feitos com base em seu efeito gravitacional sobre um outro corpo celeste -- no caso, o planeta Urano. Nesse aspecto, De Verrier e Adams são os "cientistas patronos" dos descobridores de planetas extrassolares.

Sendo a natureza humana o que é, depois da descoberta de Netuno a ideia de "influência gravitacional de planetas misteriosos" virou uma espécie explicação genérica para qualquer tipo de fenômeno mal compreendido.

No mesmo ano de 1846, um astrônomo francês anunciara ter descoberto Lilith, "a segunda lua da Terra" (que faz uma aparição rápida no romance Da Terra à Lua, de Jules Verne). Além disso, algumas divergências entre a órbita real do planeta Mercúrio e a trajetória prevista pelas leis de Newton chegaram a ser atribuídas à presença de um planeta ainda mais próximo do Sol, Vulcano. A existência de Vulcano viu-se descartada, por meio de observações astronômicas, por volta de 1880 e as discrepâncias envolvendo Mercúrio acabaram sendo satisfatoriamente explicadas pela Relatividade Geral.

Mas, se a ciência não é imune a ondas e modismos, ela pelo menos tem mecanismos de correção de rumo que, ao longo do tempo, acabam eliminando as propostas espúrias. Pseudociências como a astrologia, no entanto, não têm a mesma sorte. Em plena segunda metade do século XX, quase um século depois de os astrônomos terem desistido da hipótese Vulcano e várias décadas anos após a confirmação da Relatividade Geral, a astróloga best-seller Linda Goodman proclamava com absoluta certeza que "o planeta Vulcano, ainda inobservado, é o verdadeiro regente de Virgem".

 E quanto a Netuno? O planeta é, ao lado de Urano, um dos chamados gigantes gelados, feito basicamente de hidrogênio, hélio e metano, com as camadas mais profundas da atmosfera consistindo de gás congelado. A cor azul do planeta geralmente é atribuída ao metano em sua atmosfera, que absorve a parte vermelha da radiação que incide no planeta.

Tem 17 vezes a massa da Terra; é possível que tenha um núcleo rochoso mais ou menos do tamanho do nosso planeta.

A única sonda terrestre a visitar Netuno foi a Voyager 2, que em 1989 passou a 5.000 km do topo da atmosfera do planeta. A Voyager 2 descobriu cinco luas e quatro anéis.

Netuno tem, ao todo, 13 luas conhecidas: as três maiores são Tritão, Proteu e Nereida. Tritão foi descoberto pelo astrônomo (e fabricante de cerveja) William Lassell em 1846, apenas duas semanas após a descoberta do planeta em si. Nereida foi avistada pela primeira vez em 1949, por Gerard Kuiper. A imagem ao lado é um detalhe da superfície de Tritão, cortesia da Voyager 2.

Proteu, Náiade, Talassa, Despina, Galateia e Larissa tiveram de esperar a Voyager 2 para conseguir chamar a atenção dos astrônomos. Outras cinco luas foram encontradas já neste século.

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